Voltar a treinar Judô após os 50 anos? SIM!!!! Por Salles, Adriano
Minha história dividida em antes e depois dos 50 anos
Bom… Preciso contar um pouco sobre de quem Eu sou e de partes da minha história no Judô bem resumida, para poder explicar sobre o SIM, em voltar a treinar após os 50 anos.
Meu nome é Adriano Salles, conhecido como Salles e sou nascido em maio de 1965 em São Paulo / SP, portanto hoje (2022), tenho apenas 57 anos.
ATÉ OS 50 ANOS
Comecei no Judô em 1978, bem em frente a casa de meus avós, na Associação Cultural e Esportiva Saúde, localizada no bairro do Bosque da Saúde, na cidade de São Paulo-SP.
Inevitavelmente, quando fui assistir uma aula, apenas por curiosidade, vi um dos Sensei (Professores) que era alto e forte, ensinando técnicas de defesa pessoal e de como projetar uma outra pessoa no chão e até imobiliza-la. Percebi que era exatamente aquilo que eu precisava, pois não tinha estrutura muscular e nem força física, mesmo sendo muito alto. E assim, comecei a treinar. O nome do Sensei que me passou os primeiros ensinamentos era Otagaki, entre outros que ainda preciso lembrar.
Neste mesmo ano, participei de um torneio interno chamado de “rachadão”, onde eram formadas duas equipes que disputavam entre si medalhas, participei também de campeonatos externos, que apesar de todo esforço e vontade não obtive êxito nas lutas, porém ao final do ano, consegui minha primeira graduação: a faixa azul.
Mesmo com as derrotas, não me abalei, ao contrário, tomei mais gosto pelo Judô, vendo a conquista de meus Amigos.
Em 1979, meus treinos melhoraram e comecei a ganhar algumas lutas durante o randori (treinamento livre), neste ano ganhei minha primeira medalha no rachadão, conseguindo meu primeiro IPPON. Ao final do ano consegui me graduar faixa amarela, aliás o Certificado desta graduação é o único que, após uma “escavação arqueológica” em minhas coisas, encontrei em uma pasta bem acondicionado com muito carinho, pois ele marcou uma fase muito importante em minha vida, que foi o início de conquistas próprias. Sobre os outros certificados, ainda falta procurar em alguns locais e casas de parentes e quem sabe, consigo encontrá-los, junto também das minhas medalhas.
Treinei até 1984, quando parei por conta do serviço militar conseguindo retornar em 1990, quando já estava na faixa roxa e em 1994 ou 1995, parei de treinar novamente.
Em 2000, por conta do meu trabalho muito dinâmico, passei a viajar por todo o Brasil, sempre com o judogi (vestimenta do Judô) na mala, passei a ser o “Judoca errante” (rss), ia de um lugar a outro e treinava por onde dava, com isso as chances de se graduar eram praticamente zero, porém no tocante ao aprendizado e conhecimentos diversos e variados, foi muito proveitoso, pois conheci ACADEMIAS e “academias”, SENSEIS e “senseis” e vi muita coisa ruim, mas também muitas coisas boas em resumo, foi ruim porém valeu muito a pena ter passado por tudo isto.
Em meados de 2003/04, parei de novo, pois estava redirecionando minha vida em todos os aspectos devido a inúmeros acontecimentos.
Por volta de 2010, já com vida bem organizada e estável, tive a oportunidade de voltar a treinar, mas na situação que muitos conhecem, do “amanhã eu vou” e “amanhã eu faço” e com isso passaram-se só 10 anos (como fui relapso).
APÓS OS 50 ANOS
Em janeiro de 2020, já com 55 anos e 102 kg resolvi definitivamente voltar aos treinos, mas desta vez não era “amanhã eu vou”, mas sim, HOJE EU VOU!
E em fevereiro de 2020, quando liguei para a minha primeira Academia, acertei o que precisava, comprei o judogi e comecei, mas desta vez com a mentalidade de COMPROMETIMENTO e muitos analgésicos, mesmo pegando leve (rss.).
Fiz novos Amigos(as) e reencontrei Amigos antigos, de quando comecei também voltando aos treinos, situação muito curiosa, pois muitos tiveram a mesma vontade. Optei por recomeçar com a faixa branca devido ao tempo parado, o que não foi muito bem aceito pelos Sensei, mas não me sentiria bem em voltar com a roxa no meio de crianças iniciando, pois acreditava que eu não seria um bom exemplo e assim se seguiu.
Em março de 2020 adivinhem… Precisei parar de novo, mas desta vez contra a minha vontade, pois estourou a pandemia. Devido a tantas interrupções, mesmo que a maioria sendo necessária, cheguei a pensar se era para eu continuar ou não, pois parecia uma “conspiração” para não prosseguir.
Em janeiro de 2022, com 108Kg pós pandemia, recebi uma ligação, era Edilaine Bignardi ( @ebignardi.psicopedagoga ), Coordenadora de Esportes da Associação Cultural e Esportiva Saúde e hoje Amiga, informando que as aulas retornariam em fevereiro e perguntando se havia interesse em voltar a treinar. Minha resposta: claro que sim! Realizei todos os trâmites e aguardei ansioso o inicio das aulas. Aproveitei para fazer um check-up médico (vários exames clínicos, incluindo eletro do coração) e para minha surpresa, tudo estava ótimo, apesar de eu estar pesando 110Kg em dezembro de 2021.
Em fevereiro de 2022, já com 107kg, cheguei antes do início do treino para ajudar na colocação dos tatames e soube que teríamos um novo Sensei e duas Instrutoras Técnicas. Foi neste momento que tive o prazer de conhecer o Sensei Eduardo Melato 6º DAN ( @edumelatoneto ), Sensei Gionana 2º DAN ( @gih_oliveira.m ) e Sensei Jéssica 2º DAN ( @jessicasilva_judo ), está última, conheci pessoalmente uns dias depois.
Durante um treino na segunda aula, realizando uchikomi (treinamento de repetição), dando tudo o que podia, com vigor feito de um garoto, acabei em uma queda, tendo um estiramento forte em um dos nervos intercostais, mas em um primeiro momento, cheguei a pensar que poderia ter até trincado uma das costelas e foi neste momento que a ficha caiu e ao invés de me sentir um “garotão de 20 anos”, me senti o “jovem de mais de 50 anos” (rss.).
Acredito que essa lesão foi beneficiada pelo fato do meu organismo estar com excesso de gordura, alimentação inadequada e falta de atividades físicas. No final da aula do ocorrido, o Sensei Eduardo nos advertiu para que tivéssemos cuidado com nossa alimentação por conta da saúde e, seguindo seus conselhos assim o fiz, já no dia seguinte, procurando ingerir comidas mais saudáveis, não beber refrigerantes e tomando mais chás verdes.
Bom… Se vocês pensaram que na próxima aula eu estava novo em folha… Erraram, pois apesar de não ter dor quando parado, ao tossir ou fazer algum movimento mais brusco, doía na alma ou seja, não teria condições físicas para treinar, mas iria apenas assistir (de fora).
Perto do horário da aula, fui para a Academia sem o Judogi, quando cheguei, encontrei o Sensei Eduardo e ele me questionou onde estava o meu Judogi. Respondi que iria apenas assistir devido a lesão que me incomodava. Diante de minha resposta, ele disse para eu buscar o Judogi e entrar no tatame, pois mesmo com a lesão, eu poderia observar, aprender e até mesmo ajudar os novatos. Após sua orientação do que fazer e assim foi e afirmo, foi muito gratificante esta experiência, pois precisava buscar mais informações, que a muito havia esquecido para sanar as dúvidas dos menos graduados.
Em março de 2022, ainda com as dores da lesão, adivinhem… Mais uma vez, precisaria parar devido a um compromisso profissional que comprometeria meus dias de treinos. Fui então, conversar com o Sensei Eduardo Melato, que ofereceu a Academia do Sensei Carlos Fossati ( @judocarlosfossati ) situada bem próxima de casa também (cerca de 1,5km) e onde os treinos eram em dias que eu poderia dar continuidade sem atrapalhar a parte profissional e assim o fiz, em 15 de março.
Na Academia do Sensei Carlos Fossati ( @judocarlosfossati ), o mesmo queria que eu voltasse com a faixa em que havia parado (roxa), pois ela foi conquistada por mim em uma fase da minha vida, opinião igual a do Sensei Eduardo, que me dizia: “se uma pessoa parou de estudar na 5ª série em uma escola e anos depois voltar a estudar, ela não voltaria para a primeira, mas sim de onde parou“. Me deixando sem argumentos, ficou decidido por eles (sem opção de negociar) que eu ficaria com a faixa amarela e quando houver o exame de graduação, no meio do ano, eu voltaria com a faixa roxa.
No primeiro dia de aula, em 15/03/2022, fui muito bem recebido por TODOS e lá comecei a treinar, bem de leve sob orientação do Sensei Carlos Fossati devido a minha lesão, que com o tempo foi melhorando. Depois de um tempo, com a lesão muito melhor, comecei a puxar um pouco mais e os Senseis sempre observando e chamando minha atenção para parar e voltar a pegar leve.
Com o tempo fui melhorando, mas olha lá, depois de uma semana, ao fazer uma entrada do tai-otoshi durante o uchikomi, onde mantinha uma das pernas em posição errada e fazer o kuzushi (desequilíbrio do oponente) também errado, o colega caiu em cima do meu joelho direito (erro meu), provocando uma lesão nos ligamentos, que por sinal é muito dolorida. Mesmo estando mancando, não parei de ir para a Academia, fazia apenas o que conseguia e sempre sob a supervisão de todos os Senseis e dos demais colegas, que ficaram observando o que Eu fazia e cuidando de meu bem estar, como uma verdadeira Família faz e sou sincero em dizer que, algumas vezes me emocionei, por tanta atenção e carinho por mim.
Em abril, já bem melhor da lesão do nervo intercostal e do joelho e trabalhando mais te-waza (técnicas de braço), forcei um pouco mais (bem mais), e sofri uma lesão no músculo do antebraço esquerdo, que limitou um pouco meus treinos, mas como foi uma lesão até que comum, continuei com os treinos e em poucos dias já estava bem melhor.
Agora em maio, ao escrever este texto para o site judoarte.com.br, já estou com 99Kg, o joelho está praticamente curado, o nervo intercostal, mesmo melhorando aos poucos, incomoda em alguns momentos, principalmente nos treinos de ne-waza (técnicas de chão), assim como o músculo do antebraço, que incomoda bem de leve, mas percebo sua recuperação.
Sei que o correto seria dar uma parada quando as lesões aconteceram, mas se eu tivesse feito isso, tenho certeza que não iria voltar, além do mais, conseguia fazer muita coisa isolando apenas os exercícios que causavam desconforto, desta forma consegui manter a forma física. Agradeço ao Sensei Eduardo Melato ( @edumelatoneto ), por ter incentivado a minha ida para a Academia mesmo lesionado para ver, ouvir e ajudar quando necessário e ao Sensei Carlos Fossati ( @judocarlosfossati ), por permitir que fizesse parte da grande Família Fossati.
Agradeço também aos Senseis Felipe Di Masi ( @dimasi_judo.fitness ) e Jéssica 2º DAN ( @jessicasilva_judo ) que me ajudaram muito quando sofri as lesões com orientações de como fortalecer o meu corpo e a revisar este texto.
E CLARO… Sou grato a todos os Amigos e Amigas Judocas pela preocupação e ajuda com tudo, pois se não fossem as broncas, orientações, carinho e cuidados que todos vocês tiveram comigo, talvez eu tivesse parado ou teria me machucado mais. AMIGOS e AMIGAS, AMO VOCES e MUITO OBRIGADO!
Hoje, final de maio de 2022, estou muito bem, com o corpo bem mais fortalecido treinando 03 vezes por semana e cada vez melhor.
BORA TREINAR?
DICAS DO CINQUENTÃO SE QUISER VOLTAR e ESTIVER MUITO TEMPO PARADO
Se esta pensando em voltar em breve:
- Comece a fazer caminhadas bem leves de 20 a 30 minutos próximo a sua casa ou trabalho e vá aumentando de forma gradativa (fiz isto e deu super certo). Uma dica de quem não usa carros ou motos e usa o transporte público para trabalhar ou estudos, seria fazer uma parte do trajeto a pé (caminhada) descendo um pouco antes de sua casa ou do trabalho acordando um pouco mais cedo ou chegando um pouco mais tarde em casa, sendo este um preço baixo pela melhoria da saúde;
- Reveja sua alimentação;
- Diminua ou pare de fumar (o ideal é parar)
- Diminua ou pare com bebidas alcoólicas e refrigerantes;
- Acompanhe seu peso e tente diminuir se for necessário;
- Procure um médico para fazer um check up geral, pois nesta época esta muito demorado para fazer consultas e exames.
Se já esta decidido em voltar:
- Procure um médico para fazer um check up geral;
- Estando tudo ok, procure uma Academia Federada a Federação de Judô de sua região;
- Assista uma ou mais aulas (sem participar) para ver como treinam, pois infelizmente tem academias que não respeitam seus limites físicos sempre exigindo mais e mais, lembre-se, voce não tem mais 20 anos e lesões demoram mais para voltar a normalidade;
- Informe aos Senseis seu estado físico e de saúde para que eles possam te acompanhar e orientar do que melhor para você;
- Não force mais do que consegue, deixe o corpo ir se adaptando a nova realidade, pois toda vez que forcei, fiquei dolorido em demasia ou machuquei algo.
- Siga as orientações dos Senseis, eles sabem o que falam.
Obs.: Reveja seus hábitos alimentares e a ingestão de bebidas, faz muita diferença quando se treina tendo uma alimentação saudável. (Experiência própria)
Como perdi 11kg em pouco mais de 05 meses
- Troquei a alimentação inadequada (carnes vermelhas, gorduras, frituras, salgadas e afins) por alimentos mais saudáveis (peixe, frango, legumes, frutas, sucos, chás de folhas verdes, Iogurte com aveia, etc…)
- Comia em muita quantidade, reduzi a alimentação de forma gradativa até chegar perto de 50% do que costuma comer;
- Bebia muito refrigerante, agora bebo esporadicamente e hoje gosto muito de água com ou sem gás com um limão espremido quando bate aquela vontade de sentir as bolhas na boca;
- Para saciar a fome que aparece do nada durante o dia, tomo água, Iogurte com aveia, como frutas, cenouras ou pepino japonês;
- Hoje estou com 99Kg, minha meta 90Kg até o final deste ano (ou antes, quem sabe?).
Por experiência própria, senti o quanto menos peso faz muita diferença para o joelho, respiração e coração além de fazer você se sentir bem melhor recuperando aos poucos a sua dignidade e autoestima.
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Até a próxima postagem em breve.
Salles – (11) 99533-7616 Adriano Salles Coalheta
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29 de maio de 2022